Hoje eu caminhava sem rumo certo, atrás de carimbos lusitanos que comprovassem minha residência na nobre freguesia de Cedofeita. Caminhava em vão, diga-se de passagem, porque todos tem uma desculpa para a pobre estrangeirinha que à toa se embucha de bolinhos, na tentativa de ganhar a simpatia dos lojistas. Sigo meu rumo, os passos pesarosos, olho uma que outra vitrine e lá está, na "montra" sorrindo. Olho para ele, ele olha para mim, aquele enternecimento súbito, amor a primeira vista, fetiche do consumo. Entro na lojinha e, como não poderia deixar de ser, aguardo que o velhinho mais empoeirado que os livros das estantes se digne a me atender. Digo que queria dar uma olhada nos estojos e ele os coloca em cima do balcão. Toco nas latas frias, cheias de lembranças quentes e aquareláveis, em todas as nuances de cor. O preço, porém, é dos mais amargos, e mal começou novembro, e há muitas viagens previstas, e não posso sair assim a gastar como a perdulária que sou. A tentação é terrível, concluo que vale a pena, tudo vale a pena, se a alma não é pequena, já dizia o poeta. Mas depois me recordo que não há razão para tão desmedida compra, se não desenho já faz tanto tempo, se já nem sei mais o que desenhar, se acho que nem sei mais desenhar, se parece que tudo isso já acabou, que passou o tempo e o vento levou.
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