Este portão à esquerda costumava, em priscas eras, ser chamado de watergate, por razões óbvias (ele dá direto pára o rio, ora essa, e garantia que o suplemento de água fosse levado até a White Tower), mas graças aos seus admiráveis frequentadores, passou a ser conhecido como o traitor's gate. Por aí passou boi, passou boiada, e ilustres desconhecidos dos quais não me lembro dos nomes. Sei, porém, que por aí passou Ana Bolena, depois de ser acusada de bruxaria, incesto, traição, e outras cositas más.
Nos bons tempos dos Tudors, os infelizes opositores eram condenados à decaptação ou coisa pior na frente de todo o povão, sendo verdadeiro circo para as massas, programa de domingo para toda a família. Morrer na torre de Londres, portanto, era uma exceção concedida apenas às figuras de maior importância, para evitar comoção popular (you would have to be very well connected to get to be disconected in here). Este foi o caso de Ana Bolena. Ela não apenas se safou da sua condenação inicial, queimar na fogueira, num puro ato de compaixão do benevolente Henrique VIII, como também não precisou passar pela humilhação de perder a cabeça na frente da plebe. Mais ainda, a moça era exigente, vejam bem, e quis morrer à francesa. Ou seja, ao invés de um brutamontes britânico tirar a sua cabeça com um machado sem fio, teve que se chamar lá da França um carrasco profissional que cortaria sua cabeça em um único golpe de sabre, método mais "humano" e "elegante". De fato, dizem que Ana se ajoelhou para dizer suas últimas preces e o dito cujo foi tão rápido e sútil ao dar o golpe que quando recolheram a cabeça ela ainda permanecia de olhos abertos, com os lábios murmurando as orações.
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